"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015


Homem não sabe mais seduzir. Sei lá se isso é culpa do excesso de praticidade ou se é inaptidão pura. O fato é que as meias-palavras, intenções sabidas e não explicitadas, o cuidado de criar algo interessante pra ser dito e feito estão mais raros de encontrar do que corvo albino. Tá tudo pá-pum: olhou, se apresentou, elogiou a bunda e já vai botando a mão. Putz, coisa tosca!

Mulher não é mamão pra se escolher apalpando. Que decepção teria Vinicius de Moraes se visse os marmanjos de hoje em dia… Em vez da Garota de Ipanema, a Popozuda. De “teu corpo dourado é mais que um poema, é a coisa mais linda que já vi passar” pra “bate na palma da mão, bate na palma da mão e rebola o popozão”. Uma desgraça completa.

E o que aborrece não é a intenção por trás da corte, a mesma para os raros românticos ou os abundantes broncos: trepar com a fofa. Isso não tem problema. É, inclusive, divertido – poucas coisas fazem uma cidadã mais feliz do que saber que está matando alguém de tesão mesmo sem fazer nada. O ruim é que o jogo ficou escancarado demais, babacão, sabe? O excesso de pragmatismo nessas horas tem o mesmo efeito de parar de blefar no pôquer – retirado o suspense, perde-se toda a graça.

Se espero brilhantismo chicobuarqueano numa cantada? Ih, não me resta esperança suficiente pra isso. Basta não ser surpreendida por atos estapafúrdios, português assassinado e cérebro vazio. E não se trata de romantismo: só quero inteligência agindo em prol da libido, sabe como é? Coisinhas simples e especiais que fazem um homem sair da multidão para se instalar na minha cama e, às vezes, na minha vida (que, aliás, está sem vagas).

Porque é muito fácil disparar um “sabia que você é gostosa, gata?”, mas difícil fugir do óbvio – e, quando o cidadão faz isso, é sinal de que matou pelo menos um neurônio no processo. É um sinal, e mulheres adoram sinais.

Há muitos anos, fui apaixonada por um cara que trabalhava comigo e, confesso, jamais fui boa em abordagens tête-à-tête; sempre preferi as vias indiretas. Depois de algum tempo, e um longo trecho de via indireta, começamos a sair juntos, completamente sem pretensões ou conjugação de verbos no futuro, mas fiquei apaixonada – só que, parecia, estava sozinha nessa. Então, 16 horas antes do Dia dos Namorados, mandei entregarem a ele um lindo buquê de lírios-brancos com um bilhete: “Quase um presente, quase amanhã, para alguém que é quase meu namorado”. Não casamos nem nada, mas tivemos dias deliciosos e até hoje, todas as vezes que nos encontramos, ele relembra o episódio – me instalei definitivamente em sua memória. Não foi no coração, mas já é alguma coisa.

Se pararmos para pensar um minutinho só talvez cheguemos à conclusão de que as mulheres estejam partindo pro ataque não apenas por compulsão para seduzir mas também por não serem adequadamente atacadas. É o triunfo da velha regra: se quer que algo saia bem-feito, faça você mesmo. Porque digo isso com certeza, é muito mais gostoso deixar um homem abobado do que suportar um bobo bancando o homem.