Homem não sabe mais seduzir. Sei lá se isso é culpa do excesso de praticidade ou se é inaptidão pura. O fato é que as meias-palavras, intenções sabidas e não explicitadas, o cuidado de criar algo interessante pra ser dito e feito estão mais raros de encontrar do que corvo albino. Tá tudo pá-pum: olhou, se apresentou, elogiou a bunda e já vai botando a mão. Putz, coisa tosca!
Mulher não é mamão pra se escolher apalpando. Que decepção
teria Vinicius de Moraes se visse os marmanjos de hoje em dia… Em vez da Garota
de Ipanema, a Popozuda. De “teu corpo dourado é mais que um poema, é a coisa
mais linda que já vi passar” pra “bate na palma da mão, bate na palma da mão e
rebola o popozão”. Uma desgraça completa.
E o que aborrece não é a intenção por trás da corte, a mesma
para os raros românticos ou os abundantes broncos: trepar com a fofa. Isso não
tem problema. É, inclusive, divertido – poucas coisas fazem uma cidadã mais
feliz do que saber que está matando alguém de tesão mesmo sem fazer nada. O
ruim é que o jogo ficou escancarado demais, babacão, sabe? O excesso de
pragmatismo nessas horas tem o mesmo efeito de parar de blefar no pôquer –
retirado o suspense, perde-se toda a graça.
Se espero brilhantismo chicobuarqueano numa cantada? Ih, não
me resta esperança suficiente pra isso. Basta não ser surpreendida por atos
estapafúrdios, português assassinado e cérebro vazio. E não se trata de
romantismo: só quero inteligência agindo em prol da libido, sabe como é?
Coisinhas simples e especiais que fazem um homem sair da multidão para se
instalar na minha cama e, às vezes, na minha vida (que, aliás, está sem vagas).
Porque é muito fácil disparar um “sabia que você é gostosa,
gata?”, mas difícil fugir do óbvio – e, quando o cidadão faz isso, é sinal de
que matou pelo menos um neurônio no processo. É um sinal, e mulheres adoram
sinais.
Há muitos anos, fui apaixonada por um cara que trabalhava
comigo e, confesso, jamais fui boa em abordagens tête-à-tête; sempre preferi as
vias indiretas. Depois de algum tempo, e um longo trecho de via indireta,
começamos a sair juntos, completamente sem pretensões ou conjugação de verbos
no futuro, mas fiquei apaixonada – só que, parecia, estava sozinha nessa.
Então, 16 horas antes do Dia dos Namorados, mandei entregarem a ele um lindo
buquê de lírios-brancos com um bilhete: “Quase um presente, quase amanhã, para
alguém que é quase meu namorado”. Não casamos nem nada, mas tivemos dias
deliciosos e até hoje, todas as vezes que nos encontramos, ele relembra o
episódio – me instalei definitivamente em sua memória. Não foi no coração, mas
já é alguma coisa.
Se pararmos para pensar um minutinho só talvez cheguemos à
conclusão de que as mulheres estejam partindo pro ataque não apenas por
compulsão para seduzir mas também por não serem adequadamente atacadas. É o
triunfo da velha regra: se quer que algo saia bem-feito, faça você mesmo.
Porque digo isso com certeza, é muito mais gostoso deixar um homem abobado do
que suportar um bobo bancando o homem.