Não estou assistindo ao Big Brother, mas vi a chamada para o programa dia desses. Mostrava uma moça, uma das participantes, olhando pra câmera e dizendo com ar dramático: “Eu sou uma guerreira!”. É de dar nos nervos. Guerreira por quê? Porque está participando de um programa de televisão que vai levá-la, no mínimo, à capa da Playboy? Guerreira porque foi escolhida entre milhões de candidatos para ficar comendo do bom e do melhor e jogando conversa fora com um monte de desocupados? As pessoas não têm culpa de serem burras, mas mereciam uma surra por se levarem tão a sério.
O Big Brother é um programa de tevê como outro qualquer e não defendo sua
extinção, mas é preciso ficar atento a certos exageros. Por exemplo, é um
exagero condenar o jornalista Pedro Bial por apresentá-lo, o cara está
trabalhando, só isso. Por outro lado, ele perde a noção quando chama aquele
pessoal de “nossos heróis”. É o mesmo caso do “guerreira”: a troco de que usar
essas expressões graves e superlativas para falar de uma brincadeira televisiva
onde todos sairão ganhando?
O que irrita no Big Brother, mais do que sua inutilidade, é o fato de os
participantes serem tratados como vítimas. Qual é? Tempos atrás, circulou pela
Internet um arquivo PPS que, pela primeira vez na história dos PPS, me tocou.
Ele mostra heróis de verdade: homens e mulheres que abrem mão do conforto de
suas casas para fazer trabalho voluntário em aldeias na África e em clínicas
móveis no Líbano. São pessoas que oferecem ajuda humanitária internacional
através do programa Médicos sem Fronteiras e que não medem esforços para dar
amparo e assistência a moradores de ruas e demais necessitados, seja no fim do
mundo ou aqui mesmo nas ruas do Brasil. Isso é heróico, isso é ser guerreiro.
Quantos de nós, bem-nascidos e bem-criados, abrem mão de seus pequenos luxos
para ajudar quem precisa?
Por isso, se você é da turma que liga pro Big Brother pra votar em paredões,
pense melhor antes de erguer o telefone. Direcione sua ligação para um programa
assistencial, gaste seu dinheiro com algo que realmente seja útil. Assista ao
BBB, divirta-se e dê audiência, não há nada de errado com isso, mas cada vez
que tiver o impulso de ligar pra tirar fulano ou cicrana do programa, se toque:
tem gente mais necessitada precisando da sua ligação. O site do UNICEF traz uma
lista de entidades com que você pode colaborar dando apenas um telefonema. Quer
dar uma espiadinha? Então espie o que está acontecendo à nossa volta.