Nunca entendi a gana em tirar
férias. Essa coisa desesperadora que bate nas pessoas quando completam o ciclo
dos onze meses consecutivos. Todo o foco se volta para o planejamento da
viagem, as economias começam e todo mundo fica maluco.
Eu adoro férias e juro que compreendo a ansiedade que dá ao ver o calendário
diminuindo e a data do tão almejado descanso cada vez mais próxima de se
realizar. O que eu não entendo, juro, é outra coisa. Então vamos por partes.
A preparação. A pessoa que trabalha, por exemplo, é a causa da minha
curiosidade. Do momento em que ela anuncia a saída até um dia antes do fato se
consumar, é uma correria sem limite: corre atrás de agência de turismo, corre
atrás de mala nova, de roupa nova, de acessórios novos… No trabalho, faz
hora-extra pra aumentar a verba, leva marmita pra economizar o ticket, e às
vezes nem almoça pra adiantar o serviço.
Mas vejam que, nessa saga, o camarada trabalhou o dobro do normal, o
equivalente a mais um mês de serviço – que seria o próximo!, o de descanso – e
tudo isso para que o amigo que o substituirá saiba o-que-fazer-com-o-quê ou
ainda de onde-encontrar-o-quê e não o atrapalhe enquanto estiver tomando banho
de sol.
Ele passa trinta dias fora, sem ter hora pra levantar, acorda às onze, dorme às
duas, engorda de novo todos os quilos perdidos e se sente o rei do nordeste!
O retorno. Quando chega o momento de voltar, outra correria: corre pra ajeitar
a casa, corre para lavar a roupa, pra passar a roupa, pra rever os estragos na
conta bancária, corre pra colocar a vida em ordem e recomeçar a briga diária. E
essa é a segunda parte do processo de sair de férias que me causa estranheza. O
infeliz que passou os últimos dias no sossego, que chega no trabalho ainda a
passos de tartaruga, mostrando fotos, distribuindo lembrancinhas e contando
histórias, sente que a alegria da mamata dura somente até o meio-dia.
E então ele cai na real e vê a quantidade de trabalho acumulado, advindo do mês
que passou, pra colocar em ordem, e que o desgraçado-filho-da-puta-corno-viado
do seu substituto não seguiu as orientações e fez tudo errado, que vai levar umas duas
semanas pra arrumar – isso, claro, sem contar os serviços novos que vão
chegando sem parar.
Aí penso eu: coitado, trabalhou o dobro antes, vai trabalhar o triplo depois, e
no quarto dia da volta já estará tão estressado quanto no dia em que saiu de
férias. Vai passar os próximos onze meses pagando dívida, além da academia pra
mandar embora o excesso readquirido.
Ou seja: trabalhou mais para trabalhar um pouco menos.
É isso mesmo, produção?
___Bia Bernardi