"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 13 de novembro de 2014

a inveja é uma merda


Para mim, um dos piores sentimentos que existem é a inveja. Não que eu nunca tenha sentido - ou não sinta. É claro que sinto, sou mulher, sou gente. Queria ter cabelo de comercial de shampoo, apesar de saber que é tudo mentira e que as atrizes/modelos fazem escova e usam diversos produtos para dar um up no visual (evidente que nenhum deles é o anunciado). Também queria jogar uns quilos no ralo. E ter uma bunda dura como a das panicats.

Acho que o Eike Batista podia ser meu padrinho (não ia ser ótimo ter um jatinho a disposição só pra jantar no Fasano e depois voltar para a minha cama quentinha?). Queria escrever lindamente como a Claudinha Tajes e ser famosa como o Paulo Coelho. Queria a inteligência do Philip Roth e a delicadeza e profundidade do Caio Fernando Abreu. Queria a maturidade, sabedoria e calma de um monge budista. E o pique de um atleta (desde que não seja o Ronaldo).

Querer, eu queria. Mas minha vida não é assim: meu cabelo tem vontade própria, todo dia acorda diferente e em dias de chuva ele fica meio elétrico. Preciso adotar o lema dietas já. Minha bunda não vai ficar dura como a de alguma panicat. Não tenho jatinho nem de plástico. Escrevo do meu jeito, meio certo, meio errado, meio meu. Não sou famosa. Minha inteligência às vezes faz greve. Minha delicadeza e profundidade muitas vezes fazem feriadão. Maturidade, sabedoria e calma só aparecem depois de alguns berros, suspiros e banhos gelados. Além de tudo, estou longe de ser atleta.

Sou quase normal, semi legal. Mas nunca desejei o mal. Não consigo odiar. Mesmo. E olha que já tive motivos para odiar algumas pessoas. Não odeio. Sinto raiva, sim. Então eu grito, brigo, xingo (a pessoa ou o vento). Depois passa. Depois vira poeira, vira nada. Tem coisa que sacode a gente que nem vento forte. Depois vai embora e deixa uma leve bagunça. A gente ajeita e fica tudo bem.

A inveja que sinto não é do mal. Não desejo o que o outro tem, não piso, não passo por cima de ninguém. Posso ter quinhentos e vinte e nove defeitos, mas nunca na minha vida passei por cima de alguém para me dar bem. Acho isso coisa de gente sem caráter. E caráter é uma coisa importante, aprendi isso desde pequena.

Acho que quando a gente nasce já tem aquela coisa do bem ou do mal. Por mais que você cresça e aprenda aquilo sempre vai ser mais forte, vai gritar dentro de você. E o que grita dentro de mim é uma coisa boa. Não tenho vocação para ser santa, mas procuro ficar em paz comigo e com os outros. Não tenho nenhum inimigo (pelo menos que eu saiba), mas sei que nem todo mundo é meu amigo. Porque amigo que é amigo não sente inveja das coisas boas que acontecem na nossa vida.