A gente pode ter o Brasil que quiser, o país que merecemos pelo nosso
trabalho, sonho, luta, esperança e valor. Pelo sofrimento de milhões. Depende
do que a gente quer, realmente.
Quero um país onde as ruas não sejam um campo de batalha, mas de seguir
para o trabalho, para a escola, fazer compras, voltar para casa, se sentir
seguro. Quero um país onde as casas e edifícios não sejam fortalezas nas quais
nos refugiamos amedrontados. Quero um país onde multidões sem casa e sem
trabalho não precisem se manifestar, seja com paz, seja com violência, mas
todos tenham naturalmente abrigo, salário, dignidade.
Quero um país onde as instituições não sejam desmanteladas, onde líderes
e governos nos deem espaço e nos honrem com sua postura e ações. Onde “corrupção” seja uma palavra estranha, não esse pão nosso de cada dia
que é agora, que só nos faz perder a confiança naquilo que deveria ser o nosso
estímulo.
Quero um Brasil justo, esperançoso, progressista, onde o primeiro avanço
seja o da dignidade de seu povo, dos mais privilegiados aos mais despossuídos,
pois assim, com o tempo, não haverá mais despossuídos: todos poderemos produzir
com contentamento, segurança e paz, em qualquer lugar, em qualquer nível, da
mais sofisticada tecnologia, da mais avançada ciência, ao mais simples mas
essencial trabalho nas casas, nas indústrias, nas lojas, nos portos, nas
estradas, nos hospitais, nos mercados, nas bancas de jornal, na direção de um
ônibus ou de um táxi.
Para isso, quero antes de tudo um Brasil onde haja escolas para todos,
porque povo educado é povo informado, lúcido, e feliz. Podem ser modestas, não
precisam de grandes bibliotecas ou mirabolantes envios ou promessas de
computadores: precisam, para começar, de paredes, assoalho, mesas e cadeiras,
livros, uniformes, banheiros limpos, merenda que não foi roubada e professores
satisfeitos, isto é, com salário honrado e dignidade. Também quero escolas
protegidas de traficantes e de violência interna. Aliás, quero um Brasil onde o
narcotráfico não tenha importância nem poder.
Quero um país onde velhos, grávidas, crianças e carentes não tenham de
ficar meses à espera de uma consulta, parir ou morrer na maca ou no chão do
corredor, ou voltar para casa com filhinho doente nos braços, com a informação
de que não há nem o mais simples remédio para ajudar. Quero um Brasil onde ser
médico não é ser explorado, mas dignificado. Onde ser professor não é ser
humilhado, mas honrado.
Quero um Brasil onde não se minta iludindo o povo ingênuo com promessas
que, ano após ano, se acumulam como castelos de areia, onde não nos tratem com
mentiras óbvias mas respondam à nossa confiança com obras reais, com ações
visíveis e concretas, movidas por um verdadeiro interesse e empenho por este
lugar e esta gente, muito além do desejo de poder.
Quero um Brasil onde haja real democracia, onde não se persiga quem
expõe sua opinião, onde não se planeje amordaçar a imprensa, onde todos sejam
ouvidos e tratados com cortesia, e atendidos dentro do possível, sem populismo
nem autoritarismo, sem grosseria, sem ironia nem sarcasmo, sem desonra nem
medo. Pois o medo, a ameaça, o suborno, a exploração da fraqueza, da
credulidade ou da indigência são o contrário da democracia.
Quero um país integrado no contexto global mais civilizado, não obtuso e
à margem, não ofuscado pela ideologia ou caprichos, não alardeando um ufanismo
descabido e pobre, mas aberto ao intercâmbio com os países mais avançados, mais
livres e mais justos, sendo ouvido, respeitado, e admirado por vencer a
alienação e o atraso.
Quero o Brasil que em poucas horas poderemos criar com um gesto simples
chamado “voto”: escolhendo lúcida e conscientemente quem nos representa e quem
nos governa, quem pode nos levar à posição que desejamos e de que necessitamos.
Pois merecemos sentir alegria, orgulho, segurança e ânimo com o Brasil que
estamos a cada dia construindo, e queremos igualar aos melhores entre todos.
Depende de nós.