"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 2 de outubro de 2014


Meses atrás eu estava com o cabelo enorme, morava de aluguel e meu celular tinha sempre umas três boas opções de sexo sem amor às terças, fim de tarde. Era uma vida muito parecida com a que levei nos últimos 15 anos (o que me fazia, muitas vezes, pensar e agir como uma pessoa quinze anos mais nova).

De repente fui tomada por um nojo profundo de tudo e de todos, salvos bebês e cachorros. A única coisa que ainda me causava emoção era a azia de amigas grávidas e as varandas com ladrilhos hidráulicos de amigas maduras. Falei pra minha analista que estava cansada dos vinte e que queria assumir meus trinta e cinco. Ela sorriu, feliz em saber que meus tantos reais mensais estavam prestando pra alguma coisa.

Cortei meu cabelo bem curtinho estilo “refinada e discreta com brincos de brilhantes”. Comprei um apartamento grande estilo “tá, tá, não vou negar: dei certo na vida benzinho”, decorei estilo “chupa meu bom gosto, vaca” e dei todas as minhas roupas “jovem, modernete, angustiada e com talento mas sem dinheiro pra usar seda” pra caridade (mentira, vendi todas na internet) e engordei três quilos (mentira, foram cinco and counting).

Troquei dois paqueras, um homem casado e dois paus amigos por um mozão que me manda “resolver” o frango orgânico grelhado dele e tira minha TV do Girls pra colocar nos gols da rodada.

Ao invés da tatuagem que sempre quis fazer, meu braço ganhou duas pequenas celulites. Se existe pecado e existe punição, a celulite no braço é a cereja no bolo da crueldade divina.

Me olhei agora no espelho e pensei “taqueupariu, tô a cara da minha tia Cidinha!”. E o pior é que eu não tenho nenhuma tia Cidinha.

Toda mulher na putaria, em algum momento, deseja uma vida calma em que ela possa embarangar em paz e ser a Tia Cidinha. Toda Tia Cidinha deseja ter cabelos longos, morar de aluguel e dar que nem louca pra um bando de cafajestes.

Nenhuma mulher é feliz.