A gente se entope de açúcar, não usa fio dental e depois vai tratar a cárie, se sentindo privilegiado por poder pagar um dentista. A gente aplaude a arrogância dos filhos e depois vai pagar a fiança na delegacia. A gente fuma três maços por dia e depois processa a indústria tabagista. A gente corre na estrada a 140km/h, ultrapassa em faixa contínua e depois suborna o guarda, na melhor das hipóteses. Ou então morre, ou mata - na pior delas.
A gente vota em corrupto, depois desdenha da política em mesa de bar. A gente
joga lixo no meio fio, depois se surpreende em ter a rua alagada. A gente se
expõe em todas as redes sociais, depois esbraveja contra os que invadiram nossa
privacidade.
Precisamos de transporte público de qualidade, mas só depois de sediar a Copa
do Mundo. A sociedade reclama por profissionais gabaritados, mas ninguém
investe em professores e em universidades. E os donos de estabelecimentos
comerciais só irão se dar conta de que estão perdendo dinheiro quando
descobrirem os pangarés que contrataram para atender seus clientes.
Treinamento, nem pensar. Se precisar mesmo, depois.
Precisamos mesmo. De tudo. Só que antes.