"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



segunda-feira, 31 de março de 2014


A vida de pai e mãe reserva alguns fatos inevitáveis. Um deles é este: um dia, os filhos crescem, aprendem a bater asas, ensaiam pequenos vôos rasantes, levam alguns tombos, tentam de novo, até que, finalmente, no rastro de uma corrente favorável sentem-se seguros para empreender vôos mais longos e voam. 

Tão certo como o sol se levanta, um dia, os filhos voam. E é bom que voem mesmo porque significa que  são normais e foram bem preparados para esse momento. 
Preparar um filho para seguir o curso individual da vida sem perder a raiz, e sem cortar as asas, é atribuição que todo pai e toda mãe deve treinar desde o primeiro momento. 

Esse aprendizado começa quando a criança principia a engatinhar. Todo pai e toda mãe deve se lembrar de que no esforço de jogar o quadril para frente, a fim de buscar alguma recompensa, o bebê não pode ser ajudado, apenas observado. 
O aprendizado continua quando ele, finalmente, se levanta, ainda hesitante, e ensaia os primeiros passos. Correr em sua direção a cada tentativa frustrada, pode evitar alguns tombos, mas também impede o desenvolvimento de uma aquisição motora. O tombo faz parte dessa aquisição e por mais que doa no coração dos pais assistir à queda do filho, é necessário oferecer apenas a mão que ampara e não o colo que tolhe. Isso vale para toda a vida. Faz parte do processo.

A maioria de nós sabe disso, faz tudo certinho, mas não se prepara psicologicamente para esse momento. 
A síndrome do ninho vazio* é um conjunto de sintomas que envolvem sensação de perda, de frustração, de inutilidade, acompanhada de sentimentos de desvalia. O processo parece ser mais doloroso para a mãe do que para o pai. 

Algumas mães, quando os filhos casam, pensam que podem, de alguma maneira, transferir-se para o novo endereço e continuar usufruindo ali do ninho preenchido. Outras chegam a dizer para o genro ou para a nora: “ganhei mais um filho”. Mentira. Filho é filho, genro é genro, filha é filha e nora é nora. Os papéis são bem delimitados e devem ser mesmo, para não causar constrangimentos. Nada mais postiço do que uma sogra querendo ocupar o lugar da mãe. Nada mais desajeitado do que uma nora tentando ocupar o lugar da filha. Sogra é sogra, mãe é mãe, filho é filho, nora é nora, genro é genro. E é bom que seja assim o que não significa que haja ausência de sentimentos. Dá para amar o novo membro da família com realidade, dignidade, bom senso e lucidez. O que passar disso é fantasia e a vida não é um bloco de carnaval.

A solução para isso é viver a própria vida e não a vida dos filhos. Cada pessoa deve viver dentro dos seus dias, mesmo que isso signifique alguma dose de solidão necessária. A individualidade é um bem muito precioso que precisa ser respeitado e é também a única forma de perceber-se no universo como parte de um todo distinto de si. O amor excessivo mata a expressão pessoal como água demais pode matar uma planta. 

Na arte de bem viver, o bom senso – até para amar- é a medida.

__AnaMaria Ribas Bernardelli


*Síndrome do ninho vazio é o nome dado ao sentimento de solidão, 
vazio e depressão sentidos pelos pais quando um ou mais filhos deixam o lar, 
rumo a uma vida mais independente. 
A Síndrome do Ninho Vazio ou Empty Nest Syndrome atinge mais as mulheres. 
Fonte: Wikipédia