Não paramos de reclamar. Muitas vezes com razão: os
impostos, o custo de vida, o desemprego, a violência, a prolongada adolescência
dos filhos, a súbita falsidade de alguém em quem confiávamos tanto, a velhice
complicada dos pais, a pouca autoridade das autoridades, a nossa própria
indecisão. As rápidas mudanças na sociedade, alguns ainda tentando arrastar o
cadáver dos valores que precisam ser mudados, outros tentando impor a anarquia
quando a gente devia era renovar, não bagunçar.
Pensei que uma das coisas que andam ficando raras é a
alegria, e comentei isso.
Alguém arqueou uma sobrancelha:
– Alegria? A palavra está até com cheiro de mofo... Tanta
coisa grave acontecendo, tanta tragédia, e você fala em alegria?
Repeti a minha pequena
heresia:
– Eu acho que uma das coisas que andam faltando, além de
emprego, decência e tanta coisa mais, é alegria. A gente se diverte pouco.
Andamos com pouco bom humor.
Erico Verissimo, (velho amigo amado, uma de minhas mais
duras perdas) me disse quando eu era muito jovem: “Lya em certos momentos o que nos salva nem
é o amor, é o humor”.
Um riso bom ou um sorriso terno em meio a toda a crueldade,
falsidade, hipocrisia, violência de acusações abjetas, de calúnias vis, de
corrupção escandalosa, de desagregação familiar melancólica, de mentira secreta
e venenosa podem nos confortar e devolver a esperança.