"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 29 de outubro de 2013

relacionamento aberto (pero no mucho)


- Ok, amor, então de agora em diante nós temos um relacionamento aberto.
- Ok, combinado. Fechado!
- Tá.

- Mas como vai ser?
- Como vai ser o que, André?
- Isso, de relacionamento aberto e tal, a gente tem que acertar os detalhes.
- Que detalhes? A gente não tá comprando uma multinacional, não tem que “acertar detalhes”.
- Claro que tem! Quer ver um exemplo? Quando a gente ficar com alguém, tem que contar pro outro?
- Sei lá, pode contar, pode não contar. Tanto faz.
- Mas se mentir não é relacionamento aberto, é traição.
- Então tem que contar.
- E você não vai ficar puta se um dia eu me atrasar para o jantar porque tô comendo a minha secretária?
- Você tá comendo a sua secretária, André?
- Ainda não, mas agora vou comer.
- Viu, você já tá puta e eu nem comi ninguém ainda!
- Eu não tô puta, você que tá me irritando.
- Não tô irritando, é sério! Imagina você não poder levar o Rex para passear porque tá com o joelho ralado de dar pro seu personal trainer dentro do Fiat Uno 92 dele?!
- Ué, pode acontecer! É um relacionamento aberto agora, você não queria assim? E o carro dele é uma SpaceFox, o banco de trás abaixa todo.
- Que foi? Agora você que ficou putinho?
- Não tô putinho, tô tentando organizar isso e você fica de deboche.
- Claro, você tá aí cheio de regras! Parece que vai escrever a Constituição dos Relacionamentos Abertos!
- Ok, quer outra prova da necessidade de regras? As pessoas podem saber?
- Saber do que?
- Dos nossos casos?
- Sei lá.
- E se uma amiga sua me vir saindo do Motel com alguém?
- Que que tem?
- Ela vai te contar. E você vai fazer o que? Vai fingir que ficou puta ou vai falar “é que agora nós temos um relacionamento aberto”
- Vou falar a verdade.
- Ah, é? E se for a sua mãe? A sua irmã?
- Ah, sei lá, André, a gente tem um relacionamento aberto faz dois minutos e eu já tô quase desistindo!
- Ué, mas tem que ter regras! Não é bagunça!
- Pelo contrário, a ideia é exatamente ser bagunça. Se não fosse bagunça teríamos continuado num relacionamento normal.
- Mas até bagunça tem que ter regra. Por falar nisso, uma regra minha: você não pode dar pra ninguém com o pau maior que o meu.
- Tá de sacanagem?
- Não.
- Então eu só vou poder dar pra crianças de nove anos!
- Engraçadinha…
- Não, essa regra eu não aceito. Eu dou pra quem eu quiser, com o pau do tamanho que eu quiser.
- Não! Senão você vai ficar dando pra esses caras bem dotados e não vai querer mais dar pra mim!
- Ok, combinado. E você também não poder comer ninguém com os peitos maiores que os meus nem com a bunda maior que a minha!
- Mas você é magrinha! Até eu tenho a bunda maior que a sua!
- Problema seu, olho por olho, dente por dente.
- Porra, aí não vai ter graça. Eu tava sonhando em comer aquelas estagiárias gostosonas novinhas cheias de hormônio de frango com aqueles peitos enormes e convidativos!
- Vai ficar querendo.
- E quanto a contar, melhor não contar não. Não quero esse tipo de conversa na mesa do café, nem você chegando em casa cansada reclamando porque o seu chefe é insaciável e você não aguentava mais.
- Tá.
- Então ficamos assim: sem contar um pro outro.
- Tá, mas e se outro perguntar? Tem que mentir?
- Sei lá.
- Mas se mentir vira um relacionamento normal, e passa a ser traição, como eu já disse.
- Então não tem que contar, só se o outro perguntar.
- Mas pode perguntar?
- Ué, pode, né?! E se perguntar tem que falar a verdade!
- Ok, combinado.
- Mas e se eu não perguntar especificamente isso, se eu perguntar por que você chegou em casa tarde? Eu não perguntei se você deu pra alguém, só perguntei por que você chegou tarde.
- Vamos criar um código: quando alguém perguntar algo que a resposta seja essa, o outro responde só: “o túnel tava cheio”, aí o outro já sabe que é isso e não pergunta mais.
- Não, isso de túnel cheio tem muito duplo sentido. Eu vou ficar imaginando lá o cara enchendo o seu túnel.
- Ah, André, porra, então não pergunta nada e ponto final!
- Mas eu vou ter vontade de perguntar…
- Então pergunta e eu digo! Eu digo que cheguei tarde porque tinha fila no Motel ou porque o Alex da contabilidade é um atleta e tem fôlego de um maratonista sendo perseguido por um bando de lobos famintos.
- Você conhece mesmo o fôlego do Alex, hein…
- Ouvi falar, mas agora vou comprovar.
- Amor, vamos deixar isso pra lá então, não vai dar certo.
- Você que sabe, foi você que insistiu pra isso.
- É, mas é melhor não. A gente nunca vai se entender com essas regras.
- É, melhor.
- Aliás, amor, você leu o meu Livro de Regras pra gente ir na casa de suingue?
- Tô terminando, tô na página duzentos e sessenta.
- Oba!

_________Léo Luz

#rdb
Minha santa vózinha (que-Deus-a-tenha) se pudesse opinar,  
diria que o termo relacionamento aberto é apenas 
para camuflar o tom de putaria da coisa.