"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 13 de agosto de 2013

da criação


Na velha questão sobre a origem da humanidade eu defendo o meio-termo. Um empate entre Darwin e Deus. Aceito a tese darwiniana de que o Homem descende do macaco, mas acho que Deus criou a  mulher. E nós somos a conseqüência daquele momento mágico em que o proto-homem, deslocando-se de galho em galho pela floresta primeva, chegou na planície de Éden e viu a mulher pela primeira vez.

Imagine a cena. O homem macaco de boca aberta, escondido pela folhagem, olhando aquela maravilha: uma mulher recém-feita. Como Vênus recém-pintada por Botticelli, com a tinta fresca.
Eva espreguiçando-se à beira do Tigre. Ou era o Eufrates?  Enfim, Eva no seu jardim, ainda úmida da criação. Eva esfregando os olhos. Eva examinando o próprio corpo.
Eva retorcendo-se para olhar-se atrás e alisando as próprias ancas, satisfeita. Eva olhando-se no rio, ajeitando os longos cabelos, depois sorrindo para a própria imagem.  Seus dentes perfeitos faiscando ao sol do Paraíso. E o quase homem babando no seu galho. E, com muito esforço, formulando um pensamento no seu cérebro primitivo: “Fêmea é isso, não aquela macaca que eu tenho em casa”.

Há controvérsias a respeito, mas os teólogos acreditam que quando Eva foi criada por Deus tinha entre 19 e 23 anos. E ela reinou sozinha no Paraíso por duas luas.
E instruída por Deus, deu nome as coisas e aos bichos. E chamou o rio de rio e a grama de grama e a árvore de árvore e aquele estranho ser que desceu da árvore e ficou olhando para ela como um cachorro, de Homem.
E quando o Homem sugeriu que coabitassem no Paraíso e começassem outra espécie, Eva riu-se, concordou só para ter o que fazer, mas disse que ele ainda precisaria evoluir muito para chegar aos pés dela.

E desde então temos tentado.
Ninguém pode dizer que não temos tentado.