"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 11 de agosto de 2013

conversando com meus botões


Minha mãe completa 79 anos no dia 13.
Já sabendo da impossibilidade de ir à casa dela no dia, antecipei a entrega do presente e o meu abraço de parabéns para ela hoje, e na terça-feira dou apenas um telefonema. 
Ela ficou super acanhada quando lhe dei um beijo e disse que a amo. Não sabia onde “enfiar a cara”. Sempre foi assim... ela fica toda constrangida quando recebe alguma manifestação de carinho. Até ‘encolhe’ de vergonha e não sabe o que fazer. Ela apenas ‘dá’ o rosto para ser beijado e uns tapinhas desajeitados nas costas.

Nem precisei ficar presa em um engarrafamento para pensar sobre o ocorrido e me dei conta que o mesmo acontece com um grande número de pessoas.
Pessoas que não aprenderam a expressar seus sentimentos, a dizer “eu te amo” com naturalidade.
Pessoas que ficam duras quando damos um abraço apertado, porque não estão acostumadas a fazer isto.
Pessoas que cresceram dentro de certos parâmetros que nunca conseguiram ultrapassar.

Minha avó materna contava que seu pai sempre dizia que “para crianças não se pode dar muita abertura, porque elas tomam conta”. E com esta desculpa, ele não dava a mínima atenção à criança nenhuma.
Ela teve 15 filhos e acho que talvez tenha tido tempo de menos e preocupações demais para dar atenção e carinho a eles. Talvez não tenha sido educada para expressar o que sentia, e assim foi criada minha mãe.

Foi dentro deste clima que eu também fui criada.
Meu pai era completamente ‘duro’ para demonstrar sentimentos. Acho que ele nunca beijou nenhum de seus filhos (meu pai era muito rude e essa forma de carinho, inexistente). Eu, pelo menos, não me lembro de nenhum beijo ou abraço que tenha recebido dele e o único beijo que ele recebeu de mim, foi num ‘ritual’ de casamento. O meu casamento.
Depois disso, nunca mais tive abertura ou coragem para repetir o gesto.
Tive um pai autoritário e repressor, mas eu o amava e lamento que ele tenha morrido sem ter ouvido isso de mim: ‘Pai, eu te amo muito, apesar de...’

A boa notícia é que ninguém é escravo da educação que recebeu ou das influências do meio social em que vive ou viveu. É possível quebrar conceitos que ficaram enraizados e impregnando nossa conduta. 

Foi com mais de trinta anos que aprendi a abraçar de verdade... não ter medo de abraçar. Perdi a vergonha e o receio de ser rejeitada. Este medo é o que paralisa a maioria das pessoas. 
Aprendi a expressar meus sentimentos! 
Não é porque fui criada num ambiente de ausência de emoções que obrigatoriamente vou carregar a frieza emocional como herança.

Faço questão de trocar um beijo com o meu filho todos os dias quando ele sai para o trabalho, e também faço questão de escrever um “tiamu” em todo e-mail ou torpedo que envio para ele. Sei que meu filho ‘supõe’ que eu o amo, assim como eu suponho que meu pai me amava e vice-versa, mas sentimentos bons precisam ser verbalizados. É muito bom ouvir que é amado, como também é bom dizer.  
Hoje eu me exponho... de alguma forma eu declaro meus sentimentos. Mesmo que timidamente em frases escritas. O destinatário entende e, acredita se quiser!

Precisamos todos de afeto, de carinho, de demonstrações de amor. E é fazendo isto que ajudamos as pessoas a se desbloquearem e a aprenderem a ser afetivas e amorosas.
Precisamos de pessoas que soltem a ternura de dentro delas e expressem seus sentimentos.
Precisamos de pessoas que se preocupem umas com as outras. 
Precisamos de beijos e de abraços. 

Abrace e beije... por amor, por amizade, porque faz bem, estreita laços, aumenta a auto-estima.
E sabe de uma coisa? É muito difícil alguém não retribuir!