"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 29 de maio de 2013

ausência


Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
e eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
para que eu possa levar
uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado

Eu deixarei...

tu irás e encostarás a tua face em outra face
teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada
mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite
porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa
porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço
e eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado

Eu ficarei só
como os veleiros nos pontos silenciosos
mas eu te possuirei como ninguém
porque poderei partir
e todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada