"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



segunda-feira, 15 de abril de 2013

do mundo politicamente correto


Atirei o pau no gato. Não, coitado do gato! Atirei o pau no chão. Não, atirar é feio. Tirei o pau do chão. Opa. Ficou obsceno. Bom, mas o importante é que o gato não morreu. Ufa.

O estilista Ronaldo Fraga em seu último desfile na São Paulo Fashion Week, abordou o futebol. Ronaldo e o maquiador Marcos Costa optaram por colocar palha de aço nos cabelos de modelos brancas, brincando com o cabelo duro dos negros, a quem o futebol foi território proibido até os anos 1930.

Resultado: o pessoal preferiu focar na palha de aço, como se todo o entorno não contextualizasse e o fizesse fazer sentido. Declarações furiosas surgiram nas redes sociais, acusando o estilista até mesmo de marketeiro, como se tivesse buscado a polêmica para que ela lhe trouxesse holofotes. E Ronaldo precisa disso?

Enquanto isso, no mundo ideal as loiras são sempre inteligentes, a nega não tem mais cabelo duro, a Mônica não é mais dentuça, o Cascão toma banho e o Cebolinha foi à fonoaudióloga.
Tudo pra não ofender ninguém.
A nega de cabelo lindo adora pentear. Porque faz progressiva, não se permite mais o cabelo crespo. Trechos do Sítio do Pica-pau Amarelo vão ser excluídos, porque entendem que a Tia Nastácia era uma negra explorada por Dona Benta.
No mundo ideal, o lobo mau jamais pensou em comer a Vovozinha – aliás, Vovozinha é a sua avó: como chamar assim uma pessoa que está na melhor idade?

O cravo não briga com a rosa – nem aqui, nem ali, nem debaixo de uma sacada –, pois se o fizer é enquadrado na Lei Maria da Penha.
No mundo politicamente correto ninguém ri, já que não se podem contar piadas – alguém pode se ofender.

Mas no fundo, você sabe que também achou graça na piada.

Ronaldo Fraga é descendente de negros, como a maioria de nós, brasileiros. Não alisa os cabelos. Mas falta a Ronaldo o que no mundo ideal tem 1001 utilidades: a hipocrisia.

“Para os defensores do politicamente correto, tudo é justificado dizendo que você é pobre, gay, negro, índio, ou seja, algumas das vítimas sociais do mundo contemporâneo. Não se trata de dizer que não há sofrimento na história de tais grupos, mas sim dos exageros do politicamente correto em querer fazer deles os proprietários do monopólio do sofrimento e da capacidade de salvar o mundo. O mundo não tem salvação”.

(texto adaptado com alterações)