quarta-feira, 23 de maio de 2012
Existe um braço da Filosofia que atribui à tristeza o importante papel de “motor da vida”. Explico: fôssemos plenamente felizes, não haveria motivo para mudar as coisas. Não haveria pelo quê lutar ou atrás do quê correr. Ficaríamos estagnados na nossa felicidade cega e não seríamos capazes de seguir em frente.
O fato é que temos pavor da tristeza.
Não queremos nada além da completa felicidade a que assistimos no comercial da operadora de celular.
Vivemos para fugir da tristeza e isso está nos transformando em legumes anestesiados.
Ficamos tão habilidosos em nos esquivar dos dissabores da vida, que passamos a maior parte do tempo dentro da nossa chatinha e previsível zona de conforto.
Não nos apegamos demais aos amigos, pois eles podem ir embora; não nos apegamos demais a quem amamos por medo de não sermos correspondidos; não nos apegamos ao emprego novo, pois pode surgir oportunidade melhor.
Sem nos agarrar a nada, ficamos à deriva…
Em vez, agarramo-nos com todas as forças à bolsa nova, ao telefone da moda, aos sapatos do momento.
Claro que é um apego temporário, porque na semana que vem surgem versões “novíssimas” que tomarão o lugar das primeiras.
É curioso como gastamos montanhas de dinheiro em um par de jeans estonado, furado e rasgado, um jeans “com história”, e não investimos tanto quanto deveríamos na nossa própria.
Qual a graça da calça nova se não usá-la?
Qual a graça, então, do coração intacto, sem uso, sem quilometragem?
É o medo de comprometer suas bombas, ter de reparar suas fibras, trocar seus vasos?
É o medo da tristeza?
Não há com o que se preocupar.
O coração, assim como a calça, lavou, tá novo.
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Augusto Paz