"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 29 de maio de 2012


“Comecei a ficar mais atenta às verdadeiras razões dos meus choros, que aliás, costumam ser raros.
Já aconteceu de eu quase chorar por ter tropeçado na rua, por uma coisa à-toa.
É que, dependendo da dor que você traz dentro, dá mesmo vontade de aproveitar a ocasião para sentar no fio da calçada e chorar como se tivéssemos sofrido uma fratura exposta.

Qualquer coisa pode servir de motivo.
Chorar porque fomos multados, porque a empregada não veio, porque o zíper arrebentou bem na hora de sairmos pra festa.
Que festa, cara-pálida?
Por dentro, estamos em pleno velório de nós mesmos, chorando nossa miséria existencial, isso sim.
Não pretendo soar melodramática, mas é que tem dias em que a gente inventa de se investigar, de lembrar dos sonhos da adolescência, de questionar nossas escolhas, e descobre que muita coisa deu certo, e outras não.
Resolve pesar na balança o que foi privilegiado e o que foi descartado, e sente saudades do que descartou.
Normal, normalíssimo.
São aqueles momentos em que estamos nublados, um pouco mais sensíveis do que gostaríamos, constatando a passagem do tempo.
Então a gente se pergunta: o que é que estou fazendo da minha vida?
Vá que tudo isso passe pela sua cabeça enquanto você está trabalhando no computador.
De repente, a conexão cai, e em vez de desabafar com um simples palavrão, você faz o quê?
Cai no berreiro. Evidente.

Eu sorrio muito mais do que choro, razões não me faltam para ser alegre, mas chorar faz bem, dizem.
Eu não gosto.
Meu rosto fica inchado e o alívio prometido não vem.
Em público, então, sinto a maior vergonha, é como se estivesse sendo pega em flagrante delito.
O delito de estar emocionada.
Mas emocionar-se não é uma felicidade?
Neste admirável mundo de contradições em que a gente vive, podemos até não gostar de chorar, mas trata-se apenas da nossa humanidade se manifestando: a conexão do computador, às vezes, cai; por outro lado, a conexão conosco mesmo, às vezes, se dá.

Sendo assim, sou obrigada a reconhecer: chorar faz bem, não importa o álibi.
É sempre a dor do crescimento.”