"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 19 de abril de 2012

Vestir a carapuça


Desde a mais tenra idade aprendemos que temos responsabilidades.
Quando crianças, é nosso dever não deixar que o feijãozinho no algodão morra; depois, somos responsáveis por apresentar um boletim impecável, ou pelo menos aceitável, em casa; mais tarde, temos a responsabilidade de trabalhar, nos sustentar, educar nossos filhos e ensiná-los sobre as responsabilidades da vida.
Se algo sai errado, temos de assumir a culpa.

Acontece que há pessoas que assumem culpas demais.
Por receio, insegurança ou culpa no cartório mesmo!
Sempre tem alguém que assume o que não lhe diz respeito e acaba colecionando carapuças.
Toma dores que não são suas num exercício um tanto triste de autodefesa.
O colecionador de carapuças passa a impressão de estar sempre querendo se purgar do peso de um erro passado, de querer se esconder da vergonha de um deslize de outrora.

Sejamos lógicos.
Quem se cura da culpa tomando mais dela para si?
É como tentar se curar de gripe tomando sorvete!
Vestir carapuças é enterrar-se até os olhos para deixar de ver a bagunça deixada para trás.
É fazer-se de valente para acobertar aquilo pelo qual se acovarda.
É admitir a culpa inexistente por causa da culpa que se tem consigo.

Cresci escutando meu pai dizer: “Prometeu? Cumpra; Emprestou? Devolva; Quebrou? Conserte” e assim por diante.
Uma métrica muito adequada para aqueles que desejam uma vida mais prática e menos submersa em angústias, mas não sei se muito atraente aos “caçadores de carapuça”, pois a ideia de deitar-se nos louros da culpa e de caçar chifres nas cabeças equinas e nas entrelinhas soa bem mais simples e menos extenuante.

Ora, se já é difícil lidar com nossa própria culpa, para que tentar administrar a que não nos cabe?
Troquemos a carapuça por um casquete ou um chapéu Fedora, que são mais bonitos, mais saudáveis e não pesam a consciência.