"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sábado, 31 de março de 2012

Situação I

Você está num restaurante com nome francês.
O cardápio é todo escrito em francês. Só o preço está em reais. Muitos reais.
Você pergunta o que significa o nome de um determinado prato ao maitre.
Você tem certeza que o maître está se esforçando para não rir da sua pronúncia.
O maitre levará mais tempo para descrever o prato do que você para comê-lo, pois o que vem é uma pasta vagamente marinha em cima de uma torrada do tamanho aproximado de uma moeda de um real, embora custe mais de cem.
Você come de um golpe só, pensando no que os operários são obrigados a comer. Com inveja.
Sua acompanhante pergunta qual é o gosto e você responde que não deu tempo para saber. 

O prato principal vem trocado.
Você tem certeza que pediu um "Boeuf à quelque chose" e o que vem é uma fatia de pato sem qualquer acompanhamento. Só.
Bem que você tinha notado o nome: "Canard melancolique".
Você a princípio sente pena do pato, pela sua solidão, mas muda de idéia quando tenta cortá-lo.
Ele é um duro, pode agüentar.
Quando vem a conta, você nota que cobraram pelo pato e pelo "boeuf' que não veio.

Você:
a) paga assim mesmo para não dar à sua acompanhante a impressão de que se preocupa com coisas vulgares como o dinheiro, ainda mais o brasileiro;
b) chama discretamente o maître e indica o erro, sorrindo para dar a entender que, "Merde, alors", estas coisas acontecem;
ou
c) vira a mesa, quebra uma garrafa de vinho contra a parede e, segurando o gargalo, grita: "Eu quero o gerente e é melhor ele vir sozinho"!