"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 27 de outubro de 2011



- Mas qual é a vantagem de fingir que não há o problema?
- Quando ele é insolúvel, a vantagem é que você não terá que resolver algo que não tem como ser resolvido.
- Tipo o quê?
- Tipo o fim do amor. Para os mais jovens, o fim do amor pode ser resolvido com o término do casamento.
Inclusive, acho isso uma grosseria...
- Isso que não entendo nesse assunto de abismo...
- Desculpa, filha, mas abismo é viver.
Não estamos à beira dele, estamos nele.

E todo mundo age como se fosse um herói por contornar crises, por meio do debate, ou não.
Todo mundo vai fazer análise, justamente para não olhar para a pessoa ao lado e dizer: 'eu tenho vontade de vomitar quando escuto os teus passos.'
E isso não se diz numa conversa.
Você não pode virar para a mãe dos seus filhos e falar: 'olha, eu não te odeio, te desejo tudo de melhor, mas eu não te amo mais', sem que isso venha cheio de acusações.
Quando, no fundo, no fundo o amor não dura.

E nem me venham em falar que o que não dura é paixão.
A idéia do amor está lá, faz parte da nossa cultura, essa tal transformação do amor.
Podemos dizer: 'eu não te amo como te amei, mas esse amor se transformou, e eu amo ver televisão com você, eu amo saber que, se eu tiver um treco e ficar todo cagado, você me limpará.'
Isso é que é indiscutível.

O amor não se transforma, ele se esgota, e a gente vai levando, por vários motivos.
E saibam, muitos desses motivos não são nada nobres.