"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sexta-feira, 16 de setembro de 2011


“Pior inferno é ver filho sofrer sem poder ficar no lugar dele”.
Isso foi o que Arlete, manicure que não acreditava na vida eterna, disse para a Adélia.

Verdadeiro!
Quando penso nisso, mais vontade eu tenho de meter o bico nuns versinhos da Adélia:
“Amor é a coisa mais alegre,
amor é a coisa mais triste,
amor é a coisa que eu quero.”

Pois se eu puser “filho” no lugar que ela pôs “amor” não fica verdade também?
“Filho é a coisa mais alegre,
filho é a coisa mais triste,
filho é a coisa que eu mais quero.”

A tristeza não está nos desgostos que os filhos dão aos pais.
Desgosto dá não é tristeza; é raiva!
Não é possível ter um filho sem ter raiva dele de vez em quando.
Tristeza mesmo é quando os pais não podem tomar o lugar deles, no sofrimento.

O Vinícius, olhando seu filho adormecido, sentiu assim:
“Eu, muitas noites, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre o teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua...”

Melhor remédio contra o ateísmo que filho doente não há.
Não há ateu que vendo o filho doente em perigo de morrer, não invoque os poderes do outro mundo...

Assim é comigo: meus filhos me obrigam a olhar para cima e a invocar a Deus.
Porque minhas asas são muito pequenas para cobri-los todos.
E sei que chegará o tempo em que minhas asas terão voado para um lugar longe de onde não poderei protegê-los.

Que bom seria se houvesse anjos da guarda!

Lembro-me de um quadro na parede da barbearia, eu, menino, cortando cabelo, ficava olhando... os dois irmãozinhos vão pelo caminho da floresta e há uma ponte sobre um abismo que eles tem que atravessar. Por detrás deles, com suas enormes asas abertas, está o anjo da guarda, garantia de que nada de mal lhe acontecerá.

É mentira, mas traz tranqüilidade à alma.