"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 21 de julho de 2011


O amor tem esse poder mágico de fazer o tempo correr ao contrário.
O que envelhece não é o tempo.
É a rotina, o enfado, a incapacidade de se comover ante o sorriso de uma mulher ou de um homem.
Mas será incapacidade mesmo?
Ou não será uma outra coisa: que a sociedade inteira ensina aos velhos que o tempo do amor passou, que o preço de serem amados por seus filhos e netos é a renúncia aos seus sonhos de amor?

Compreendi a felicidade do meu amigo.
E também fiquei feliz.
Aquele velório foi como o acorde que se toca ao fim de uma sonata: a culminância da felicidade.
Interessante que, como regra, o movimento final das sonatas é um allegro.
Para trás os adágios lamentosos!
A conclusão deve ser um orgasmo de alegria.
E, se eu pudesse, acrescentaria aos textos sagrados, nos lugares onde os profetas têm visões de felicidade messiânica, esta outra visão que, eu penso, até o próprio Deus aprovaria com um sorriso: “E os velhos se apaixonarão de novo…”
Achei a estória tão bonita que a transformei numa crônica.

Começa aqui o novo final para a estória.

Passaram-se semanas. Eram dez horas.
Eu estava trabalhando no meu escritório.
O telefone tocou.
Voz aveludada de mulher do outro lado.
- É o professor Rubem Alves?
- Sim, respondi secamente. Eu sou sempre seco ao telefone.
- Quero agradecer a belíssima crônica que o senhor escreveu com o título: " ... E os velhos se apaixonarão de novo". O senhor já deve ter adivinhado quem está falando...
- Não, respondi. Por vezes eu sou meio burro.
Aí ela se revelou:
- Sou a viúva.

Foi o início de uma deliciosa conversa de mais de 40 minutos, interurbano, em que ela contou detalhes que eu desconhecia.
O medo que ela teve quando ele resolveu mandar consertar o violino!
Ela temia que os dedos dele já estivessem duros demais...

Ah! Que metáfora fascinante para um psicanalista sensível!
Sim, sim!
Nem os violinos ficam velhos demais, nem os dedos ficam impotentes para produzir música!
E aí foi contando, contando, revivendo, sorrindo, chorando - tanta alegria, tanta saudade, uma eternidade inteira num grão de areia...
Ao terminar, ela fez esta observação maravilhosa:
- Pois é, professor. Na idade da gente, a gente não mexe muito com sexo. A gente vive de ternura!

Aqui termina a lição do Evangelho.

(Das crônicas: Violinos não envelhecem e E os velhos se apaixonarão de novo)

Envelhe-ser 'jovem' e capaz de amar...
Nem sempre a idade afasta as pessoas dos amores que podem ser vividos.
Muitas vezes é o preconceito que as impede.
Para o amor, estamos sempre 'vivos' , e tempo não existe... 
A chama se acende novamente, basta permitir.