"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 21 de julho de 2011

Duas crônicas... um tema: o amor

Estava lendo algumas crônicas do Rubem Alves e me deparei com uma história que me fez suspirar (não sou nada romântica, né?).
É uma história emocionante, de amor, renúncia e superação, escrita em duas crônicas diferentes.
Juntei as duas... o texto ficou bastante extenso, but, vale a pena ler.
Achei simplesmente linda!


Meu amigo não chegou na hora marcada. Telefonou dizendo que estava num velório. Chegou atrasado, sorridente. E me contou que fora no velório que lhe viera aquela felicidade.
Pensei logo que o morto deveria ser um inimigo.
Não era. Um tio, muito querido, pessoa doce, 81 anos.
Parece que seu velho corpo não suportara a intensidade da felicidade tardia, e os seus músculos não deram conta do jovem que, repentinamente, dele se apossara.
E ele me contou uma estória de um amor…

O amor surgira no tempo em que ele é mais puro: a adolescência.
Mas naqueles tempos havia uma outra Aids, chamada tuberculose, que se comprazia em atacar as pessoas bonitas, os artistas, os apaixonados - esses eram os grupos de risco.
Pois ela, a tuberculose, invejosa da felicidade dos dois, alojou-se nos pulmões do moço, que teve de ir em busca de ar puro, no alto das montanhas, sanatório, tal como Thomas Mann descreve em seu livro - 'A montanha mágica'.

Quem ia para tais lugares despedia-se com um 'adeus', um olhar de 'nunca mais'.
Na melhor das hipóteses, muitos anos haveriam de passar antes do reencontro.

Imagino o sofrimento da jovem dividida: o corpo, naquela casa, a alma por longe terra!
Na vida daquela menina, que surda, perdida guerra... (Cecília Meireles).

Valeram mais os prudentes conselhos da mãe e do pai: não trocar o certo pelo duvidoso.
Vale mais um negociante vivo que um tuberculoso morto.

Ela casou. Ele casou. Nunca mais se viram.
Quando ele tinha 76 anos, ficou viúvo.
Quando ela tinha 76 anos (ele tinha 79), ela ficou viúva.
E ficou sabendo que ele estava vivo.
A curiosidade e a saudade foram fortes demais.
Foi procurá-lo.
Encontraram-se.
E, de repente, eram namorados adolescentes de novo.