"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 21 de julho de 2011


Começa então, depois dos tempos de luto, a estória mais bonita de um amor entre dois velhos, amor de olhar e de palavra, de deleite nos olhos e deleite no corpo...

Sei muito bem que é estranho.
A Simone de Beauvoir, no seu livro sobre a velhice, diz que há uma coisa que não se perdoa nos velhos: que eles possam amar com o mesmo amor dos moços.
Aos velhos está reservado outro tipo de amor, amor pelos netos, sorrindo sempre pacientemente, olhar resignado, espera da morte, passeios lentos pelos parques, horas jogando paciência, cochilos em meio às conversas.
Mas quando o velho ressuscita, e no seu corpo surgem de novo as potências adormecidas do amor – oh! Os filhos se horrorizam! “Ficou caduco”...

A estória que meu amigo contou era parecida com a do Florentino e da Firmina.
Só que a espera foi muito maior.
Amor de adolescência interrompido – cada um seguindo seu caminho, diferentes, outros amores, famílias.
Mas o tempo não consegue apagar.
A psicanálise acredita que no inconsciente não há tempo…
Somos eternamente jovens.
E de repente, já no crepúsculo, as árvores que todos julgavam secas começam a soltar brotos, florescem.

Resolveram casar-se.
Os filhos protestaram.  
Eles, os filhos, todos os filhos, não suportam a idéia de que os velhos também têm sexo. Especialmente os pais.
Pais velhos devem ser fofos, devem saber contar estórias, devem tomar conta dos netos.
Mas velho apaixonado é coisa ridícula.
Não combina.

Mas, na nossa estória, os dois velhos deram uma solene banana para os filhos e foram viver juntos em Poços de Caldas, longe dos olhos dos que não suportariam o amor na velhice.

E ele até começou a escrever poesia e voltou a tocar o violino que ficara por mais de 50 anos sobre um guarda-roupa, porque a outra esposa não gostava de música de violino.
Divina loucura!!!
E reaprendeu as palavras de amor e dizia, realista, que se Deus lhe concedesse viver com ela apenas dois anos, sua vida terá valido a pena.
Não ganhou dois. Mas teve um...
Bem que Deus quis. Mas o corpo não deixou. Morreu de amor!
Viveram um ano de amor maravilhoso.

E eu fiquei pensando que esse um ano pode ter sido semelhante àquelas experiências raras que a gente tem, e que fazem brotar, do fundo da alma, aquele grito de exultação, à La Zorba: “Valeu a pena o universo ter sido criado, só por causa disto!”.

E foi o mesmo que aconteceu com T.S. Eliot, que só encontrou o seu amor aos 68 anos, e aos 70 anos dizia que, antes do casamento, estava ficando velho. Mas agora se sentia mais jovem do que quando tinha 60.