"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 29 de junho de 2011


O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas quase silencioso.
Não é menor em extensão.
É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações:
presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas:
amplia-se com as ausências significantes.

O amor maduro tem e quer problemas, sim, como tudo.
Mas vive dos problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.
Na felicidade está o encontro de peles,
o ficar com o gosto da boca e do cheiro,
está a compreensão antecipada, a adivinhação,
o presente de valor interior, a emoção vivida em conjunto,
os discursos silenciosos da percepção,
o prazer de conviver, o equilíbrio de carne e espírito.
Carne intensa, alegre, criança,
redescobrimento das melhores dimensões pessoais e alma refeita,
abastecida de todas as proteções necessárias,
um enorme empório de afinidades acima
e além de meras concordâncias intelectuais.

O amor maduro é sólido e definido.
O amor maduro não disputa,
não cobra, pouco pergunta, menos quer saber.
Teme, sim.
Porém não faz do temor argumento.
Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado
e importante porque redentor de todos os equívocos do passado.

O amor maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é filho da capacidade de crer e continuar.
É o sentimento que se manteve mais forte depois de todas as ameaças,
guerras ou inundações existenciais com epidemias de ciúme,
controle ou agressividade.

O amor maduro é a valorização do melhor do outro
e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu
mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas
para sentimentos antigos, jardins abandonados cheios de sementes.
Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe.
Não exige, dá.
Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz.
Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.

O amor maduro não precisa de armaduras,
coices, cargos, iluminuras, enfeites,
papel de presente, flâmulas, hinos, discursos ou medalhas:
vive de uma percepção tranqüila da essência do outro.
Deixa escapar a carência sem que pareça paupérrima.
Demonstra a necessidade sem que pareça voraz.
Define uma dependência
sem que se manifeste humilhante.

O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão.
Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e sua incompletude,
por isso é pleno em cada ninharia por ela transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto
e a forma adulta de ser sublime e criança.
É o sol de outono: nítido mas doce.
Luminoso, sem ofuscar.
Suave mas definido.
Discreto mas certo.
Um sol, que aquece até queimar.