Nossa, há quanto tempo... Como vão as coisas
no seu pequeno planeta? Aqui, no meu, andam imensamente estranhas – muito baobá
para pouca flor, se é que você entende meus simbolismos.
Quem sempre fala de você é aquela ex-miss que
vivia chorando por sua causa, lembra? Ela me contou da sua amizade com a
Raposa.
Príncipe, como você é meu amigo de infância,
não posso deixar de alertá-lo. Cuidado com a Raposa. Ela parece uma coisa, mas
é outra. Faz-se de fofa e é uma cobra, uma chantagista.
Quando a conheci, ela disse que não podia
conversar comigo, pois não sabia quem eu era. “A gente só conhece bem as coisas que cativou”, ela
falou, toda insinuante.
Respondi que, se nós duas nos cativássemos,
ela ficaria triste quando eu fosse embora. Foi quando saquei que ela queria ter
um cacho comigo, pois a Raposa pegou no meu cabelo – eu estava loira na época –
e disse que tudo bem, porque ela olharia os campos de trigo e se lembraria de
mim.
Marcamos um encontro para o dia seguinte, às
4. E ela me pediu para chegar às 4 em ponto, dessa forma ela ficaria feliz
desde as 3 somente por esperar o momento do nosso encontro. Achei estranho, mas
pensei que fosse charme. Não era.
Cheguei 15 minutos atrasada e a Raposa
surtou. Falou que nós somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.
E perguntou para mim, olhando diretamente nos meus olhos, se eu tinha
consciência de que “perder tempo” com o outro é o que faz essa história
importante.
Percebeu o tom de chantagem? Ela joga na cara
tudo o que faz em nome do outro. Ela deseja afeto, mas o quer como uma
responsabilidade de mão única. Porém, também somos responsáveis quando nos deixamos cativar –
relacionamentos são vias de mão dupla.
A Raposa exige a certeza de um compromisso
com hora marcada, impondo regras à troca afetiva. As regras dela, claro, já que
ela quer todo o afeto a favor de seu bem-estar. Chega a ponto de dizer que será
feliz porque você virá. Como se a
felicidade fosse algo condicionado ao outro, à espera do outro, ao encontro com
o outro.
Veja que coisa infantil. São as crianças que
precisam de horários certinhos e de associar suas emoções às pessoas com quem
se relacionam. Sentindo prazer ou desprazer diante da ausência ou presença da
mãe ou do pai ou de quem quer que seja. Na criança, ainda não há um universo
interior, entendeu? Quando nós crescemos, temos de conseguir ver o mundo
através das próprias perspectivas. Enxergar a beleza de um trigal sem nos
lembrar de ninguém.
A Raposa, como uma criança assustada, quer
que aqueles que a amam estejam com ela na hora em que ela deseja. Achando que
eles são “responsáveis” pela felicidade dela. Ou seja, o outro lhe deve algo
por tê-la cativado.
Desde esse dia, não falo mais com ela. E
aconselho você a fazer o mesmo. Ela não é flor que se cheire.
Saudades distantes,